Em nosso artigo anterior “Distúrbios do Sono e do Ciclo Sono-Vigília” esclarecemos que o Sono é uma fase do ciclo circadiano tão importante quanto o estado de vigília. Quando estamos dormindo, descansamos a musculatura das atividades do dia anterior e nos preparamos para o próximo estado de vigília. É importante também para o aprendizado e memorização, além de regular a secreção hormonal.
Vimos também que o Sono é dividido em Sono Não REM e Sono REM, sendo que o primeiro sucede a vigília e tem quatro estágios, de acordo com sua profundidade. No Sono REM temos os “movimentos rápidos dos olhos” (Rapid Eyes Moviments). Existem maneiras para averiguar o que acontece com nossos músculos, frequência respiratória, frequência cardíaca, temperatura, pressão arterial e ritmo cerebral durante os estágios do sono (Polissonografia).
Durante o Sono Não REM, as ondas são de alta amplitude e lentas, denotando pouca atividade metabólica e elétrica. Durante o Sono REM, há uma intensa atividade metabólica e elétrica, semelhante às da vigília, as ondas são rápidas e de baixa voltagem. A musculatura chega no seu grau mais relaxado e o indivíduo é mais difícil de ser acordado. Neste momento fisiológico é que temos a maior quantidade de sonhos.
Dividimos os distúrbios em: distúrbios do Ciclo Sono-Vigília e Distúrbios do Sono, propriamente dito.
Dentre todos estes problemas, o mais frequente é a Insônia, que é caracterizada por dificuldade para iniciar o sono, despertares frequentes, sono superficial, e despertar precoce, levando a um sono não reparador e por isso, sonolência e fadiga durante o dia. A principal causa de insônia é a dificuldade do indivíduo em reduzir seu fluxo de pensamentos quando seu mecanismo de sincronicidade interno deveria seguir o ritmo geofísico (sol-lua e claro-escuro) ou dar início a primeira fase do sono Não REM após longo período de vigília e esgotamento físico e mental.
Os mecanismos internos de marca passo do ciclo e início do Sono Não REM sofrem influências do Sistema Límbico, que tem estrita ligação com memória e emoções associadas. Não é por acaso que observamos que a maior causa de Insônia é a ansiedade e o estresse. O mecanismo fisiológico é bloqueado pelo próprio indivíduo, levando a uma resposta não adequada a seu bem estar.
A insônia crônica leva a múltiplas alterações no indivíduo como dificuldades em memorizar, raciocínio lento, fadiga fácil, indisposição, irritabilidade, alterações hormonais, baixo rendimento escolar e no trabalho. Muitos pacientes com distúrbio do sono tem quadros psiquiátricos associados. Uma grande parte sofre de dores crônicas.
Um estudo feito na Noruega em 1974 com 10.000 pacientes, revela que pessoas com insônia são mais suscetíveis a dores crônicas e a frequência de dor crônica é maior em pacientes com insônia. Quase 70 % dos pacientes com dor crônica relatam despertar por dor. É imprescindível a abordagem do sono em pacientes com dor crônica e sabemos também que pacientes com dor crônica são mais ansiosos.
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As queixas são muito variadas, desde dores cervicais, dores lombares, sensação de formigamento e agulhadas em extremidades, até dores difusas pelo corpo formando um verdadeiro espectro.
Estes pacientes circulam muitos anos por diversas especialidades realizando vários exames. Suas dores literalmente caminham pelo corpo formando um ciclo vicioso onde a dificuldade em relaxar a musculatura durante o sono leva a cansaço e dores, e essas pioram a qualidade do sono.
Fibromialgia
A Fibromialgia é uma doença subdiagnosticada caracterizada por dor pelo corpo todo, aumento da sensibilidade às dores em geral, rigidez muscular, dificuldade para concentração e memória, cefaleias, sono não reparador, às vezes associada à Síndrome do Cólon Irritável. O diagnóstico é clínico e baseado na história e na presença de “Pontos Dolorosos” ao exame. Fisiologicamente existe um desequilíbrio dos neurotransmissores responsáveis pelo controle da dor, como serotonina, Dopamina e Noradrenalina.
A doença pode ser desencadeada por um fator estressor, físico ou emocional.
O complexo Dor Física X Ansiedade X Insônia e sua alça de retroalimentação deve ser abordada de forma complexa e estratégica, como é o ser humano. A dor da Fibromialgia melhora com atividade física, principalmente aeróbica e exercícios de relaxamento e alongamento e medidas para higiene do sono, como:
- Dormir 7 a 8 horas por dia e ter horários regulares;
- Deixar bem claro que o trabalho acabou até 2 horas antes de dormir;
- Local de sono adequado, sem barulho, sem luminosidade, sem televisão;
- Banho morno, ler, relaxar;
- Evitar alimentos excitantes ou comer muito à noite;
- Não ficar mais de 15 a 30 minutos na cama sem dormir;
- Evitar exercícios intensos à noite.
A Psicoterapia é uma aliada, pois os pacientes com Fibromialgia têm dificuldades em lidar com o estresse do dia a dia, manifestando suas angústias em Dor. A grande maioria acaba necessitando de suporte medicamentoso, enquanto providenciam mudanças de hábitos, em direção à melhoria da qualidade de vida.
Estudos vem sendo realizados utilizando técnicas de Meditação como meio de diminuir o fluxo de pensamentos. A neurocientista Sara Lazar, da Escola de Medicina de Harvard, realizou um estudo com meditadores de longo tempo. Observou alterações importantes, principalmente no Sistema Límbico. Entre outras áreas que sofreram alterações, houve uma redução significativa no volume da amígdala, área responsável pela reação de “ataque ou fuga”, importante nas reações de ansiedade, medo e estresse. O objetivo era atenção plena com foco na redução do estresse.
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Indivíduos que nunca tinham meditado, também tiveram resultados após uma sequência de oito semanas. O objetivo da meditação vai muito além do relaxamento. Entretanto, um dos primeiros resultados de quem a pratica é uma melhor qualidade do Sono.
A única forma de tratamento eficaz das doenças do corpo é voltar-se para as suas causas. Isso inclui abordagens em três categorias:
Melhora da qualidade de vida com atividade física regular, alimentação saudável e higiene do sono;
Lidar melhor com o estresse do dia a dia e com perdas;
E finalmente, aprender a relaxar e diminuir o fluxo de pensamentos, trazendo clareza mental, transformando as sensações negativas de angustia e desesperança e sensações de tranquilidade e bem-estar.
Sem essa abordagem, estaremos apenas voltados para as consequências. Agora, você não pode mais dizer que não sabia!
Quando vai começar as mudanças?
Dra. Elaine Cristina Lima - Neurologista
Com mais de 16 de anos de experiência vividos em Medicina,
na área de Neurologia com MBA Executivo em Saúde;
Expertise em Neurologia e Clínica Médica;
UNIFESP
Instituto Neurospine Telefones: (11) 3051-2543 e (11) 97607-9728