Uma das queixas atuais mais constantes é a “perda de memória para fatos recentes“ e pessoas bastante jovens incluem-se nesta lista. Com o envelhecimento da população e a crescente prevalência da demência de Alzheimer, artigos de revistas, jornais e internet vêm alertando sobre a prevenção da doença, mas ao mesmo tempo, lançando muitas dúvidas e preocupações infundadas pela falta de informação balanceada.
Perguntas como “há medicação para perda de memória? ”, “será que a minha perda de memória é Alzheimer?” são o dia-a-dia do médico neurologista.
Mas a maioria das pessoas tem menos de 65 anos e vêm ao consultório sozinhas, ou seja, são independentes. A maioria não tem parente próximo com Alzheimer precoce (antes dos 65 anos) e não há comprometimento social, no emprego e nos afazeres diários. A característica da demência é comprometer o indivíduo a este ponto e ser progressiva, não apenas a queixa de perda de memória.
Causas de perda de memória:
Existe a perda de memória relacionada a idade, mas que não evolui para Demência. O indivíduo pode esquecer o nome de alguém que conheceu há pouco tempo e ter que perguntar novamente. Pode esquecer onde colocou óculos e chaves às vezes, mas se lembra de ter colocado num determinado lugar ao encontrar. Talvez realize as tarefas costumeiras de uma forma mais lenta e dificultosa mas consegue realizar as tarefas do dia a dia e não há impedimento no engajamento social. No caso das Demências Degenerativas, o paciente tem essas capacidades comprometidas.
Os principais tipos de demência, além da Doença de Alzheimer são: Demência Vascular, Demência mista, Demência Fronto Temporal e Demência por corpúsculos de Lewy, abordado em detalhes no post Demência: Melhor Prevenir! E somente um especialista faz a distinção.
Muitas condições clínicas reversíveis podem manifestar-se com perda de memória e outros sintomas parecidos com quadro demência. Medicações de uso crônico, principalmente alguns antidepressivos, ansiolíticos e medicações para induzir o sono. Um traumatismo craniano, mesmo sem lesão aparente ou perda de consciência.
Alcoolismo pode causar sérios problemas de memória, pelo efeito do próprio álcool, pela interação do álcool com medicações e por deficiência múltipla de vitaminas. Deficiência de vitamina B12 associada a hipotireoidismo, gastrite, baixa ingestão de proteínas que a contenham, etilismo e a senilidade pode levar a quadro de déficit isolado de memória ou mesmo demência.
Hipotireoidismo, doença bastante frequente, pode levar a perda de memória e falsa demência. Doenças comuns, como Hipertensão e Diabetes são também responsáveis por déficit de memória e aumentam as chances de demência.
Outras doenças menos frequentes e mais graves, como tumores e hidrocefalia (acúmulo de líquido nos ventrículos cerebrais) também podem apresentar este quadro de falta de memória.
Insônia, Ansiedade e Depressão: É aí que a maioria dos casos de perda de memória começam!
A maioria dos indivíduos preocupam-se com a Doença de Alzheimer, mas não se atentam para o fato de estarem vivendo sobre estresse. Fazem tantas coisas ou preocupam-se com tantas coisas ao mesmo tempo, que não estão realmente presentes nas ações. Isso significa que não prestam a devida atenção aos fatos, logo, não se lembram de muita coisa depois ou esquecem-se de alguns compromissos. Há fatos de extrema importância, como “esquecer de pegar um filho na escola“.
A depressão e ansiedade podem levar a sintomas muito semelhantes a uma verdadeira demência, quase indistinguível, principalmente em idosos. Pode haver “apagões“ nos quais o paciente não sabe mais o que está fazendo. Pode, de repente, perder-se em locais que costuma ir, esquecer compromissos e até mesmo, períodos de confusão mental.
Os distúrbios do ciclo sono-vigília e do sono são causas importantes, a principal é a insônia. Muitos pacientes nem mesmo percebem que não estão apresentando um sono repousante. Queixam-se de problemas de memória, cansaço, dificuldade para raciocínio e de sono excessivo durante o dia. Estes são sinais indiretos de uma má ou insuficiente noite de sono.
Saiba mais sobre Distúrbios do Ciclo Sono - Vigília e Insônia
Dormir entre seis e sete horas por dia é essencial para o organismo reparar o trabalho do dia anterior e preparar-se para a jornada do dia seguinte. Durante o sono REM (Rapid Eyes Moviment) há o relaxamento muscular e o trabalho de fixação da memória. O aprendizado depende de um sono adequado.
Sabemos que na maioria das vezes, os distúrbios do sono estão associados com a depressão e ansiedade.
Tratamento
É direcionado para cada causa. Não há um único tratamento para a Perda de Memória.
Para as demências degenerativas, temos os anticolinérgicos, já descritos em artigos anteriores, no blog.
Para as alterações nutricionais, existem as dietas e reposições vitamínicas específicas.
Para o alcoolismo, existe o tratamento multidisciplinar, visando cessar o uso do álcool, além de reposição vitamínica.
O Hipotireoidismo requer reposição hormonal e costuma responder rápido ao tratamento.
Os tumores e as hidrocefalias são de tratamento cirúrgico, podendo deixar sequelas ou não.
O Diabete e a Hipertensão devem ser bem controlados.
A insônia requer orientação para “higiene do sono“, ou seja, medidas de reeducação quanto aos horários, preparo do quarto para dormir (sem barulho e sem claridade), evitar substâncias excitantes na parte da tarde, fazer exercício físico durante o período da manhã e outras medidas não medicamentosas. Se absolutamente necessária, medicação por curto período de tempo e tratar Apneia do Sono, se presente.
A psicoterapia é de grande importância nos distúrbios do sono, na depressão e ansiedade. Medicação ansiolítica e antidepressiva deverão ser introduzidas, se necessário.
A MEDIDA MAIS SÁBIA: A PREVENÇÃO
Uma atitude equilibrada perante a vida, com exercícios físicos regulares e alimentação saudável, sem excesso de café ou outros estimulantes e evitando vícios como cigarro e bebida alcoólica, é o básico esforço que todos devemos empreender.
Organizar-se para evitar os picos de estresse, respeitar o horário de sono e sobretudo, procurar ajuda especializada para tratar a ansiedade e depressão, pois, essas, lá na frente, podem desencadear doenças irreversíveis, são as medidas mais eficazes para combater problemas de perda de memória!
Dra. Elaine Cristina Lima - Neurologista
Com mais de 16 de anos de experiência vividos em Medicina,
na área de Neurologia com MBA Executivo em Saúde;
Expertise em Neurologia e Clínica Médica;
UNIFESP
Instituto Neurospine Telefones: (11) 3051-2543 e (11) 97607-9728